Há uma coisa que te quero contar desde que li este blog Diário de uma Louca...
E porque é que te quero contar? Porque nem tudo na vida é bom, porque chorei durante uma hora depois de ler isto a olhar para ti enquanto dormias e a agradecer a quem quer que esteja lá em cima por te ter ali comigo.
Cá vai:
No dia que tu nasceste, houve outra mãe que deu entrada no hospital para dar à luz (será que a expressão é adequada?). A C. era minha colega do curso de preparação para o parto. Tinhamos exactamente o mesmo tempo de gestação, fazíamos 39 semanas no dia em que nasceste. andávamos super contentes e ansiosas e até brincávamos com o facto de podermos ter os filhos no mesmo dia.
A diferença é que a C. deixou de sentir o seu bébe no dia antes de tu nasceres. A Enfermeira que nos fazia a preparação para o parto fez-lhe um CTG e mandou-a para o hospital.
No dia em que tu nasceste, nasceu outro bébe, só que ele não foi para casa e sim para o céu.
O teu pai contou-me à tarde. Disse-me que a C. estava na zona 'das coisas que não tinham corrido bem' e foi vê-la. Eu confesso: fui cobarde e não consegui ir vê-la. Não sabia o que lhe dizer. Não conseguia deixar de me sentir culpada por ser a mulher mais feliz do mundo. E não conseguia deixar de pensar que podia ser eu a estar naquela ala da maternidade.
À noite, quando já todas as visitas se tinham ido embora, eu recebi um último visitante: o marido da C. entrou devagarinho no quarto, sorriu-me com as lágrimas nos olhos e ficou por instantes simplesmente a contemplar-te. Lembro-me que pensei que ele era o homem mais corajoso do mundo para enfrentar uma realidade que ele sabia que estava longe de ser a sua: a minha felicidade e tua existência. E mais uma vez me senti pequenina e culpada por estar feliz.
Conto-te isto para que saibas que essa criança podia ter hoje a tua idade e para que saibas que seria capaz de enfrentar dragões, monstros e homens-maus para te defender mas que não tive coragem para enfrentar uma mulher infeliz porque isso poderia lembrar-me que podia ser eu a estar sem ti... E isso seria pior do que ter que enfrentar todos os dragões monstros e homens-maus deste mundo e do próximo.
5 comentários:
Qdo se perde um filho deixa-se de viver para sobreviver...
Mas garanto-te que ainda se conseguem momentos de felicidade.
Um beijinho e não te deixes apoquentar mto por estas histórias... sofremos, mas fazem parte da realidade cruel.
Obrigada pela visita. E tb pela partilha. Como te compreendo e sei q seria igualmente cobarde... Não é isso... é q doi tanto!
Ola Mae do outro mundo.
Como te entendo. Ainda este fim de semana me contaram a historia de uma colega minha q teve que ser operada qdo estava gravida de 6 meses e o miudo nasceu, mas so estve ca dois dias. A pobre ficou como um trapo, mas agora ja esta a espera do terceiro.
E quem sabe, poderias sempre dar uma apitadela a tua colega e tomar um cafezinho com ela. Ela se calhar agora esta mais calma e vai apreciar a tua solidariedade?
Compreendo... é uma dor que não se quer sequer imaginar. Mas que ao conhecer essa realidade, aprendemos a relativizar as nossas desgraças também acho que é verdade... Queixamo-nos tantas vezes de barriga cheia. Não me vou adiantar...
Posso linkar-te?
Beijo
Carla & repolha: Tu linka-me à vontade, miúda.
Para todas: obrigada pelos comentários. Não vos respondi porque é um assunto que me custa particularmente. Mas agradeço as vossas palavras. Bjinhos
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